Além do tema abordado nas páginas do livro “Pretinha, eu?!”, jogo de perguntas e respostas aumentou o envolvimento dos estudantes com a leitura
Quanto mais escuro for o tom da pele, menor a renda, menor a escolaridade e menores oportunidades. No Brasil, considerado pela Organização Nações Unidas (ONU) como um país onde a discriminação racial é “estrutural e institucionalizada”, a relação de causalidade é comprovada pelas estatísticas.
De acordo com o estudo realizado pela entidade e publicado em 2014, apesar de constituir mais da metade da população, os afro-brasileiros representam apenas 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, a taxa de desemprego nessa parcela populacional é 50% superior ao da restante e, ainda, a sua renda representa somente a metade da obtida pela população branca. Já, no campo da cultura, a participação dela é caracterizada pelo relatório como “superficial”, o que inclui taxas de analfabetismo duas vezes superiores às do restante da população.
A discriminação por motivos raciais, constatada nos dados percentuais é, histórica e amplamente, vivenciada pelos afrodescendentes no convívio social e nos diversos espaços onde esse se dá.
Em uma tradicional instituição de ensino básico, a matrícula da sua primeira estudante negra é considerada um “escândalo” pelos demais alunos. Os colegas, então, discriminam a bolsista Vânia, tanto pela sua origem étnica, quanto pela sua condição financeira. Mesmo que essa pudesse ser a descrição de um fato real, esse é o enredo da obra “Pretinha, eu?”.
Escrito por Júlio Emílio Braz, o livro, cuja leitura foi solicitada aos estudantes de 6º Ano do Ensino Fundamental do Colégio Notre Dame, instiga a discussão sobre o preconceito e as suas consequências. Por isso, a partir da narrativa, além de exercitar a interpretação e a produção textual, os educandos foram desafiados a realizar uma pesquisa aprofundada sobre o tema.
De forma abrangente, eles buscaram informações sobre as diversas expressões do preconceito – como o social, o de sexo ou o de gênero, além do racial. Elas foram socializadas, utilizando equipamentos multimídia, com os colegas de turma, com o intuito de que, a partir do conhecimento e do debate, haja a necessária conscientização. Afinal, como destaca a educadora Marjuliê Gregóris, os assuntos pertinentes à sociedade devem transitar pelo cotidiano escolar, em todos os níveis de ensino, para que sejam analisados.
Ainda como atividade referente à “Pretinha, eu?!”, os estudantes participaram de um jogo de perguntas e respostas sobre a obra, inspirado em Candy Crush. A disputa, realizada na Biblioteca Geral da instituição de ensino, testou as lembranças dos estudantes quanto à ambientação, aos personagens e ao enredo do livro lido, além de tê-los questionado sobre a estrutura e as características textuais. De acordo com a auxiliar de Biblioteca, Caroline de Ávila, associar a leitura a uma atividade diferenciada das rotineiras, divertida e afinada com os gostos dos educandos propicia maior envolvimento com a obra, no ambiente escolar.